7 de out. de 2008

O muro

Tudo parecia correr de maneira suave os amigos conversando e o som do rádio dividindo espaço com aqueles jovens agitados.

Pegamos uma trilha para chegarmos ao destino mais sedo, só tinha um problema, o motorista não conhecia bem aquela estrada, e o pior estava para acontecer quando o carro deu sinal que algo não ia bem. Marcelo sempre foi um sujeito prestativo mas desligado, quero dizer com isso que manutenção era raro ele fazer, a prova estava bem aqui, os nossos temores concretizaram-se, o veículo quebrou. A felicidade e as conversas dissiparam-se como uma nuvem, todos estavam com os semblantes nada otimistas. Decidimos procurar um telefone público, os celulares...bem! Não funcionavam quando estavam fora de área, eis o paradoxo da tecnologia, nos ajudam e muitas vezes nos deixam na mão.

Andamos por cento tempo, os pés começaram a reclamar e a sede avisava que nossos corpos precisavam de atenção; graças! Para nossa alegria avistamos uma vila, parecia um milagre mas estava lá! Minha imaginação começou a trabalhar freneticamente vendo as pessoas nos recepcionando, Entramos meio ariscos, algo estava muito estranho apesar da placa de entrada ser convidativa, parecia não ter ninguém naquele lugar, Marcelo usou sua voz estridente, nada se moveu a não serem as folhas das árvores, até parece que havia um código de silêncio.

Decidimos por nos separarmos, é! Não simpatizei com a idéia mas os convenci, aos meus companheiros, que seria por uma causa necessária. Nicolas foi á esquerda a passos lentos, Marcelo foi na frente dominava aquele cenário seu porte físico avantajado intimidaria qualquer morador que ali habitar-se. Vasculhamos a pequena vila sem resultados. O desespero foi tomando forma, me preocupava com a chegada da noite antes de encontrarmos alguma solução, é ai que o que foi abstrato se torna real. Dizem que o tempo é efêmero só confirmei essa verdade quando observei que a escuridão já dominava o único visitante além de nós, o brilho tímido da lua. Agora a situação ficara embaraçosa, sem o carro consertado, nenhum residente, e o pior os meus amigos desapareceram.

A calma se esvai e o pavor me controlando, continuei andando sem direção, tentando procurar uma meio rápido de achar a entrada da vila, acreditando que os outros dois estivessem lá, aliás, quem sabe se esse sumiço do Marcelo e Nicolas não fosse apenas uma brincadeira de mal gosto, Marcelo com aquele jeito sério era na verdade um belo palhaço. Fui andando mais alguns passos e senti que esbarrei em alguma coisa, abaixei-me e para meu espanto era um cadáver, não entendi, quando chegamos aqui não havia nada, mas agora isso!? Minha angústia era maior pois a roupa da vítima era familiar, na verdade era do meu amigo Marcelo, quem fez isso!? Será que tinha assassinos de emboscada esperando alguém a entrar neste vilarejo?

Meus olhos começaram a embaçar, tentei puxar o corpo mas cai por ter tropeçado em outra coisa, quando virei não pude acreditar Nicolas no chão, seu rosto pálido como se estivesse a algum tempo exposto naquele local. E agora?...Pensei! Minha mente em confusão hesitava, nesse lugar sinistro nada fazia sentido...Não mesmo.

Tentei sair daquele ambiente horrendo mas fui impedido de continuar, pois meus olhos não puderam focalizar mesmo que limitado pela escuridão haviam corpos por todos os lados, senti o coração perdendo o compasso, de maneira sem lógica, o céu estava limpo e de repente estava chorando, molhando todo aquele lugar sombrio. Senti alguém puxando minha calça, nesse instante me virei e pude ver que era uma garotinha no meio da imensa pilha de defuntos, ela disse de forma macia mas num tom firme: “Você fez tudo isso”.

Não compreendi o sentido daquelas palavras, quando olhei minhas mãos e as roupas, estava provado, o sangue era testemunha do palco moribundo, em instantes tudo havia sido alagado. Como um último ato de tormento gritei: Nãaaaaaaao! Percebi que acordei com o corpo todo suado, mais uma noite de sono perturbado, os calmantes no criado-mudo me lembram da consulta com o psicólogo.

A estação de primavera sempre deixa a cidade com aspecto alegre, cheguei na clínica um pouco atrasado, o Dr. Paulo já se acostumou, explico que tive um daqueles pesadelos, ele esclarece por dizer que todo trauma resulta em mudanças significativas incluindo nossos sonhos, resumi dizendo que nada mais é que liberação das emoções; Cartase.Fico pensando que enquanto não tomar as rédeas daquilo que se passa na minha cabeça, ficarei sempre limitado como se existisse um muro ente a razão e a emoção. Saio da sala confiante que só foi um sonho desagradável...é! Preciso falar com Marcelo e com Nicolas sobre nosso passeio...Bem! Não custa nada pedir ao esquecido do Marcelo para fazer a manutenção do carro.

4 comentários:

compositora Nae disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
compositora Nae disse...

Gostei do Texto
O que marcou foi o Marcelo prestativo,mas desligado
Marcelo o esquecido
Gostei
Parabéns
compositora Nae

Osvaldo Heinze disse...

Sim senhor, hein seu moço?!
Nem acredito que esse conto saiu dàquele escritor romântico que conheçi...
Puxa! Que surpresa para mim perceber tua capacidade de dominar a escrita nas diferentes formas de estilo.
Olha... Parabéns! Ainda vou ter em minhas mãos um livro teu.
Abraços amigo!!!

Anônimo disse...

Olá meu amigo , hj vim aqui especialmente para ler o seu conto,acho que vc está se saindo muito bem.Quem sabe eu aprendo a escrever assim...porque te confesso que não sei nada de contos..sou uma aprendiz de primeira viagem. Por isso só posso te dar minha opinião de leitora não sei fazer uma análise técnica.Gostei e desejo a você muito sucesso.Continue , vc está no caminho de se tornar um grande escritor, pode explorar bem essas situações de mistério, pode ser seu estilo literário ou vc poderá nos surpreender sempre como faz o Aristides.
Um grande abraço e prabéns.
Neli