5 de jan. de 2009

guarda os filhos numa gaveta

Edson Bueno de Camargo


todas as tardes, guarda os filhos numa gaveta, como quem guarda os filhos em uma gaveta, todo seu carinho de mãe para o retrato,

há de ter sobrado
amor para outro homem
mas como encontrá-lo
em um mar de pernas e braços

o risco do céu se esmaece, todo o contorno em rosa e sangue,

a lágrima
coletada com lenços de papel

a noite
vê dormir os filhos do retrato
as vezes a mais velha teima acordada
e dorme em seus braços
assim que a abraça

todas as manhãs ao chegar ao trabalho, tira os filhos da gaveta, como quem tira os filhos da gaveta e observa o retrato com todo seu carinho de mãe

Um comentário:

Osvaldo Heinze disse...

Parabéns amigo Edson!
Conseguistes aprisionar o encantamento em tuas letras.
Estás ficando surreal também, hein!? rsrs
Muito bonito esse poema.
Abraços!