Edson Bueno de Camargo
a lua se quebra
em penhascos de faca e gelo vivo
escamas de turquesa fina aguda
plumário de serpente
folhas de vento
suçuarana de sopro
suave fumaça leve
que dá vida ao barro
irmão coiote
caminha sobre as línguas da pradaria
sobre as pegadas dos que já são extintos
dos que sempre estarão
onde o velho jaguar pisa
nasce o caminho
que se revela
a bíblia do homem não é mais a do animal
desfez-se a harmonia
as manchas das costas de felino
escrito está o nome da criança deus
porção branda da brisa
serve de alimento
às dores da rocha mãe
o parto do tempo
areia esculpindo o mundo
a cria dos peixes à superfície da água
respirados pelo grande espírito
que é pai e mãe ao mesmo tempo
inflamam os pulmões da terra
cultivam vida até onde se pode levar
tornar a lembrar o que vai acontecer
que a chuva já caiu aqui ontem
e cairá lavando as dores e o medo
por pior frio
há primavera
alento e cores
soa o tambor dos olhos
soa o coração nos dedos
soa o trovão
chuva que chega
volta sempre a carne para meus ossos
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