18 de out. de 2010

dívida com o mar






Edson Bueno de Camargo


quando o mar
devolver seus mortos sem sepulcro
estarei na praia
a esperar meus amigos

abraçarei seus ossos mareados
que lavarei com cuidado e zelo
e lhes darei o devido enterro
cantarei canções de ninar cadáveres e esqueletos
e lembrarei mais tarde
ao som de tambor
ao redor de uma grande fogueira
do dia em que fiquei para trás esperando

pois que eu tenho uma dívida com o mar
assim como ele me deve
por isso não consigo mais andar sobre a s águas
nem posso ter pedras dentro da cabeça
ao modo dos peixes
nem dormir agarrado a remos
no fundo de barcos de longo calado

penso nas marcas dos pés sobre a areia
e no dia que sai da casa de meus pais
para não morrer no mar

sei que lá estão meus companheiros
em paciente espera do dia
que o mar nos devolva todos a vida

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