9 de set. de 2012

Casa da Palavra - 20 anos




Existem controvérsias quanto a pertinência ou não de saraus, se funcionam para incentivar a leitura, se muitas vezes seu formato é muito padronizado, se a fórmula pessoas lendo seus poemas está esgotada, mas uma coisa é certa, para quem gosta é uma maneira interessante de fruição.
Em tempos internéticos e de ermitões cibernéticos, estes encontros, muitas vezes, funcionam para que aquele rosto no quadradinho do avatar de sua mídia social predileta, se transforme em uma pessoa de carne e osso em um momento que o convívio de pessoas ao vivo está cada vez mais complicado.

No dia  06 de setembro de 2012, na Casa da Palavra em Santo André, aconteceu mais um destes muitos saraus que estão se multiplicando por ai. Mas este foi especial, porque marcou os exatos vinte anos da Casa da Palavra, uma marca considerável para um espaço dedicado à leitura e a literatura, com seus altos e baixos é bem certo, momentos gloriosos e outros nem tanto, mas sempre funcionando,  um marco em meio à parte mais urbanizada da cidade de Santo André. Mas é também refúgio dos moradores dos bairros mais afastados da cidade e das outras sete cidades que compõe o ABC paulista, pessoas que buscam sua alma na palavra, onde houve momentos que os abeceanos de outras cidades comandaram a resistência cultural neste espaço. Não posso deixar de lembrar que foram os escritores mauaenses e diademenses que interpelaram o então Secretário Adjunto de Cultura sob a ameaça de dissolver a Escola Livre de Literatura ainda em seu nascedouro.
Nestes vinte anos, mais de uma geração de escritores, estudantes e apreciadores passaram por suas portas, depositando um pouco de sonho e muitas vezes desilusão, também, porque não? Uma luta não se faz só de vitórias, também de desilusões e derrotas, mas o importante é que a bandeira da palavra não se perdeu, mesmo em momentos trágicos e ameaças de desativação. Uns se firmaram na escritura, outros desistiram, “mas isto são coisas da vida”. Surgiu neste espaço a Escola Livre de Literatura, que aos trancos e barrancos vem se firmando, hora com grande expressividade, hora um pouco menos, mas viva.  Como diz Teixeira Coelho, os equipamentos públicos de cultura que são assumidos pela população, perduram.
Neste dia 06, exatos 20 anos da instalação do espaço, a escritora e artista plástica Cristina, funcionária da Casa e da Cultura de Santo André na ocasião da inauguração,  deu um depoimento que reverteu a um grande acaso objetivo, ao revelar que o nome Casa da Palavra, se deu à música de Milton Nascimento e Caetano Veloso, “Terceira margem do rio” em alusão ao conto de mesmo nome que está no livro “Primeiras estórias” de João Guimarães Rosa.
Eu sabia que tinha uma ligação mais do que física com a Casa:  nasci a dois ou três quarteirões dali, muitos de meus poemas nasceram entre aquelas quatro paredes, mas a titulação pelo verso da música, que adoro, e a referência ao conto que me fez ter o desejo de escrever pela primeira vez, além de uma profunda identificação com o personagem que tem uma relação de distância e ausência com o pai, coisas muito significativas para mim. Por conta disto, não poderia deixar de relatar este acontecimento, algo importante  neste momento em que minha poesia está mais madura e se assenta sobre as pernas da palavra.
Controvérsias à parte, foi uma noite muito agradável, com muita poesia, música à capela com Henrique Krispin e Lari Germano e uma performance muito louca com inflamáveis de Caio Zanuto. Não sei quanto aos outros, eu me diverti muito. 

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