Esse meu coração frio morando na Avenida São João
Entre lojas de discos e edifícios vazios
Tentado a se jogar do precipício
No abismo do Viaduto do Chá
Pelo chá de cadeira de Santa Ifigênia que não quer
lhe escutar
A memória vai ladeira abaixo
Não adianta, não acho na Vinte e Cinco de Março
Nenhuma travessa de confiança que me leve até a Luz
A luz se apaga detrás da vidraça
E vira fumaça do crack
Que queima no cachimbo da dor
E vira fumaça do escapamento do doutor
Da lareira e do forno de pizza
Do pedaço da tira de carne roída encontrado no lixo
E no aleijado largado na Praça da Sé
Os santos do Centro não atendem
Os que temem mais o frio do que Deus
Esses santos só fazem teatro
No centro do terreiro só respondem São Cosme e
Damião
Ai São Paulo, por que tanta dor, por que tanto amor
por tanta tristeza?
Que a correnteza da chuva vai trazer
Os pobres pra República
Pra fazer ocupação, pra criar confusão no meu
coração
Que na Avenida São João entre lojas de discos e
edifícios vazios
Fica do lado deles com fome e com frio
Marcelino
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