12 de mar. de 2008

METAMORFOSA MORTA

Seca essa lágrima que verte sem dizer água,
Deitando seu curso na dureza que calibra
A engrenagem do nosso tempo...
O ruído da passagem é cortante, e velozmente naufraga
O outrora verde agora (im)posto cinza
Na raiz do artificial contentamento.

Gigantes de pedra ornamentam nossos dias...
Lá fora as árvores inertes guardam esperanças insanas
Frente à fome e à sede normalizadas em toda gente.
As entranhas automatizadas pulsam vidas
Onde as dores tremem tamanhas.
Mas por que não temem a natureza num golpe conseqüente?

Os céus não comportam mais rabiscos... no frio rasgam
Com aviões de metálicas e fluidas asas
As distâncias que comportavam corpos.
E os pássaros? Coloridos e esmaecidos putrificam,
Nos duros dias soluçam cantorias vazadas
Pela pseudo-proximidade humana sobre seus mínimos ossos.

Ações malditas... mal ditas virações na terra
Encerram o pouco âmago restante na inventividade
Deste longo mundo desenhado como moderno...
O grão do instante germina num quadro a era
Em que as flores sufocadas são traços de genuinidade:
Mãos que criam e espalham seu racional credo.

Veja, hoje, essa água que deveria ser lágrima.
Por ela, os homens poderiam entender, sentir
Quão breves os desejos dentro dos seus olhos
Erguem tudo para enaltecer o nada...
Mas os conceitos saberão partir
Antes que a cruzada parta mais o meio ambiente e os corpos?

Segue a engrenagem formatando as horas num tempo
Maquinado. Sem fim ritma a metamorfose sem medo
Do fim num funeral tido como contentamento...


Vinícius Motta e Eliza Gregio

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