14 de nov. de 2008

azaléias

Edson Bueno de Camargo


hoje à tarde
as azaléias voltaram a florescer
dando ao jardim um certo ar de arte zen

não me canso de observá-las
até que o olho se transborde em lilás
recordo as palavras do velho mestre (medite)
comungo com este estar
que se dilui em verde
o universo tomou seu assento em nossa casa
neste pequeno pedaço de terra que deixamos livre e verde

esta tarde tudo me retorna ao nosso amor
da juventude que trespassa
nossos corpos velhos e cansados (e nem sempre vence)
de quanto o meu desejo ainda é novo e terno
é calor e sol
de como minha boca é solidão sem teus lábios

olha o chão
tapete ruidoso de folhas
água da chuva que impõe sua presença
a primavera que chega
há mais aves no céu
e a neblina molha os teus cabelos
sinto ciúmes de algo que consegue te envolver com tanta intensidade
fria sob o Sol
feito brisa marinha com sal e susto (e o mar tão longe)

as azáleas ainda não se acostumaram
à nova casa
não pintamos suas paredes (mas vamos)
há no entanto um piso recente sobre o cimento
e nossas orquídeas e bromélias servem de playground aos gatos
a pitangueira agora branca
reinventa uma estação

medito sobre os propósitos da existência humana
não existem
só sei que te amo mais hoje
do que quando te vi pela primeira vez
nas escadas da escola
imagem que morreu no templo dos infinitos

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