répteis
vomito cobras vivas
cinco ao todo
répteis que caem ao chão
e fogem assustados
ainda úmidos
sulcam a terra
desaparecem na poeira
pajés do planalto central
visitam meu devaneio
saltam de dentro
de nuvens de fumaça branca
cheiram a querosene e tabaco
pólvora queimada e pinga
moeda cachaça para todos os santos
para juremas
para os caboclos errantes
para os egúns vivos quase mortos
que caminham pela civilização
e têm nos olhos telas brilhantes e antenas
não se sabe
se é noite ou dia
céu vermelho sobre a cabeça
tempestade de areia do Saara
dormindo nas águas quentes do Caribe
câmeras assustadas filmam o abismo
desvelam línguas e palavras
uma menina pivete desafia a polícia
com seu corpo magro e olhos de assombro
um diamante vivo em cada pálpebra
Glauber Rocha ressuscitado em Brasília
dirige tudo aos berros e euforia
(como todo bom baiano
sorri irônico como um Caetano)
tudo é sonho
tudo é vermelho
tudo cheira a esgoto a céu aberto
tudo cheira a vidro quebrado e hospital
as mesas dos botecos se embriagam
devoram as palavras que os poetas lhes derramam
lambidas por lagartos abissais
a cidade (e suas asas)
é um poço sob os discos voadores
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