24 de mar. de 2008

Amortanásia



Descobriu já era tarde
Não adiantava o alarde
Nem querer se divertir
Por obrigação

Descobriu meio sem jeito
Que perdera o direito
De escolher se continuava ao leito
Ou deitava em um caixão

Não bastavam as lembranças
Pois acabaram as esperanças
Que foram as penúltimas a morrer
Deixando-o na solidão

Não era mais um gigante
Não sabia se seguia adiante
Perdeu tudo que tinha antes
Inclusive o prêmio de consolação

Não adiantou fazer história
Pois perdera a memória
E lutar pela vitória
Já não era sua decisão

Não chorava nem sorria
Não aguentava nem doía
Não acordava nem dormia
Não existia comparação

Não perguntava -O que eu fiz?
Não mandava no nariz
Não sentia-se feliz
Se ocupava de desocupação

Quando alguém lhe perguntava
Ele não argumentava
Apenas admirava
Como naquela ocasião

Quando tomado pelo amor
Colheu apenas uma flor
E sentiu uma grande dor
A dor da traição

E parou por um momento
Pra fugir desse tormento
Se jogou dúvida a dentro
Como única solução

E já não era mais ele quem decidia
Se vivia ou dormia
E a família já sabia
Que tinha morrido um coração

E quando seu fim chegou
Ele se cumprimentou
Pois ao mundo ele provou
Quanta dor o Amor
Pode causar ao coração.

Marcelino

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